Síndrome das pernas inquietas ligada à saúde intestinal
Pesquisa preliminar sugere associação entre o crescimento excessivo de bactérias no intestino delgado (CEBID) e a síndrome das pernas inquietas (SPI), dando respaldo às últimas pesquisas que relacionaram a saúde da flora intestinal com a saúde do sono.
Embora o estudo esteja em andamento e o recrutamento apenas começando, os pesquisadores observaram crescimento excessivo de bactérias no intestino delgado nos sete pacientes com síndrome das pernas inquietas estudados até o momento.
“Encontramos taxas muito altas de crescimento excessivo de bactérias no intestino delgado nos pacientes com síndrome das pernas inquietas”, disse ao Medscape o primeiro pesquisador, Dr. Daniel J. Blum, Ph.D., preceptor clínico adjunto no Stanford Center for Sleep Sciences and Medicine em Redwood City, na Califórnia. Explorar esta relação poderia levar a novas formas de detectar, prevenir e tratar a síndrome das pernas inquietas, disse o pesquisador.
O estudo foi apresentado no SLEEP 2019: 33rd Annual Meeting of the Associated Professional Sleep Societies.
Síndrome das pernas inquietas é pouco compreendida
Embora a causa da síndrome das pernas inquietas não esteja elucidada, tem sido descrito um estado relativo de deficiência de ferro no cérebro dos pacientes com este quadro que parece induzir alterações em várias vias sabidamente envolvidas na doença, disse o Dr. Daniel.
A insuficiência de ferro pode ser secundária à deficiência de ferro alimentar ou, potencialmente, à inflamação intestinal. Dr. Daniel e colaboradores levantaram a hipótese de que o crescimento excessivo de bactérias no intestino delgado, quadro associado à disbiose intestinal, possa estar relacionado com a síndrome das pernas inquietas.
Os participantes do estudo foram recrutados no Stanford Sleep Center e divididos em três grupos: SPI com baixa reserva periférica de ferro (< 50 ng/mL e/ou saturação de transferrina < 18%); SPI e reserva periférica de ferro normal; e insônia (grupo de controle).
Como parte do estudo, os participantes preencheram questionários sobre o sono e os sintomas de crescimento excessivo de bactérias no intestino delgado, e levaram para casa um kit de coleta de fezes e um kit de teste respiratório para esse quadro. As amostras de fezes foram analisadas pelo University of Minnesota Genomics Center e as amostras respiratórias foram avaliadas pela Aerodiagnostics, laboratório de análises clínicas em Massachusetts, para avaliar alterações de hidrogênio e metano.
Os sete participantes com diagnóstico de síndrome das pernas inquietas que completaram o protocolo até hoje foram três homens e quatro mulheres. Todos tinham má qualidade de sono segundo o Pittsburgh Sleep Quality Index e sintomas moderados a graves pela International Restless Legs Scale.
Todos os sete participantes (100%) tinham crescimento excessivo de bactérias no intestino delgado. Em contraste, a prevalência de crescimento excessivo de bactérias no intestino delgado na população geral é estimada entre 6% e 15%, sugerindo que este quadro possa ser muito mais comum na população com síndrome das pernas inquietas, informou o Dr. Daniel.
“Há um estudo inédito mostrando que, entre as pessoas com superposição de crescimento excessivo de bactérias no intestino delgado e síndrome das pernas inquietas, se você tratar a primeira patologia, a segunda melhora significativamente”, disse o Dr. Daniel.
Nova compreensão
Comentando o estudo, o porta-voz da American Academy of Sleep Medicine, Dr. Nitun Verma, médico, observou que o estudo “é pequeno, porém muito interessante”.
“A síndrome das pernas inquietas é um distúrbio relativamente comum, e nós realmente ainda não entendemos inteiramente o que faz as pessoas terem esse distúrbio. Os pacientes querem saber por que têm as pernas inquietas, e é terrível não termos uma boa resposta para dar. Este estudo abre a porta para o potencial de pesquisas mais aprofundadas sobre a causalidade”, disse o Dr. Nitun, que não participou do estudo.
A Dra. Dianne Augelli, médica especialista em medicina do sono no Weill Cornell Medicine and NewYork-Presbyterian Hospital, em Nova York, também acredita que a relação entre os dois quadros é “interessante”, mas advertiu que “são necessários estudos muito maiores” para replicar esses resultados. A Dra. Dianne não participou da pesquisa atual.
Além disso, pode ser complicado tratar o crescimento excessivo de bactérias no intestino delgado, disse ao Medscape a Dra. Dianne. “E esse tratamento pode levar a um caminho que pode trazer prejuízos. Será que tratamos com antibióticos e acabamos fazendo algo pior?”
O estudo foi financiado por uma doação do Pau Innovation Gift Fund Seed Grant. O Dr. Daniel J. Blum, o Dr. Nitun Verma e a Dra. Dianne Augelli informaram não ter relações financeiras relevantes.
SLEEP 2019: 33rd Annual Meeting of the Associated Professional Sleep Societies: Abstract 0009. Apresentado em 09 de junho de 2019.
Fonte: Medscape